Chegando
em Itabuna fui conhecer meu novo lar. A dona do pensionato se chamava Lu, era
uma casa pequena com quatro quartos. No primeiro moravam dois garotos que
faziam faculdade, no outro a filha de dona Lu, no terceiro ficava a dona. Eu
fiquei sozinho em um quarto , mas sabendo que iria mudar em breve porque um dos
garotos iriam sair.
A
recepção por ela foi ótima, diferente do meu primo que não foi muito boa.
Durante a conversa com a dona ele largou um peido daqueles que dominam todo espaço. Claro que o
dono daquele vapor quente só assumiu a culpa quando já estávamos na rua
passeando pela cidade.
As
pessoas sempre têm dificuldade em morar em pensionato. Imagino que seja difícil
mesmo. Conviver com pessoas diferentes , respeitar os horários da casa, confiar
em deixar seus pertences tendo outros moradores. Eu não sei se foi sorte ou
pela sintonia mesmo , mas acadei me sentindo em casa no pensionato de dona Lu.
Morei
durante um ano e meio no pensionato e aprontava bastante por lá. Depois de seis
meses um amigo meu de Porto , o Ed , veio morar também. Èramos nós dois, a
filha e a dona. Formou- se uma família. Eu era o filho mais novo , traquina.
Escondia nos comodos da casa para assustar dona Lu. Ela me xingava de tudo quanto
era nome. Me recordo muito do " seu filha da puta com dois guardas
noturnos". Tudo acabava em risos.
A
gente morava no primeiro andar. Em um dos dias de aprontação peguei minhas
sandálias, batia uma na outra e gritava
para fingir que a mulher estava me agredindo.
As
nossas brigas se pautavam exclusivamente nos horários de dormir e acordar. Eu
gostava de assistir televisão até mais tarde. Dona Lu gostava de dormir cedo e
acordar mais cedo ainda para rezar e ouvir o rádio. E assim o pau quebrava, mas
com muito humor. Realmente eu me sentia em casa.
Eu
fazia cursinho pela manhã, cochilava um pouco a tarde, depois estudava e a
noite era televisão. A minha mãe de aluguel achava que eu estudava pouco em
casa, mas eu estudava.
O
meu companheiro de quarto, o Ed, já estava fazendo faculdade de computação
quando veio morar no pensionato. Além da companhia , era um incentivo para eu
estudar mais. Ed estudava muito e assim eu melhorei o ritmo de estudo também.
..........X..........
Uma das
lições como dono de casa: aprendi a lavar roupa. A dona Lu me levou ao tanque ,
e me acompanhou lavar o uniforme.
Sempre
tive tudo nas mãos. Até minhas cuecas eram lavadas por minha mãe.
Mas
confesso que gostei da experiência, essa primeira informação sobre as
obrigações de casa, são necessárias. Nem sempre vai sobrar grana pra lavanderia.
Essa grana economizada já servia pra um cinema, um sorvete ...
.......... X..........
O
primeiro momento que descobri que o mundo era pequeno foi a coincidência no
primeiro mês que estava morando em Itabuna.
Um
ano antes de ir morar em Itabuna, fiz uma viagem de excursão para Beto
Carreiro. Não conhecia ninguém, era a primeira vez que viajava sozinho.
Fiz
amizade com um grupo de jovens, dentre eles , Fanny. Uma garota muito divertida
e atenciosa. A gente andava de mãos dadas, mas nunca rolava de ficar. Não
lembro bem o motivo.
Em
uma das poucas saídas em Itabuna, fui ao teatro assistir uma peça, referente ao
livro que cairia no vestibular. Ao chegar no teatro encontro com Fanny.
Sentamos juntos e claro, ficamos! Não precisou nem muita conversa, porque já
estava claro que só faltava o beijo. Rs
Então
Fanny virou minha “ficante” em Itabuna. Rotina agora era estudar de manhã,
dormir a tarde e estudar um pouco, depois ir visita-la.
Morar
longe de casa, nos torna mais carente. As pessoas se tornam especiais mais
rápidos e preenchem espaços vazios dentro de nós.
Mas
não fiquei muito tempo com Fanny não. Continuamos só amigos, mas pra um começo
de vida nova, foi algo bem legal.
No
cursinho não fiz muitos amigos. Sentava na frente, prestava atenção nas aulas.
Meu pai antes de sair de casa me falou “ Se perder esse ano no vestibular ,
volta e faz administração aqui.”
Fiquei
com isso na cabeça. Resolvi fazer comunicação, mais por causa das discilplinas
de peso que era Espanhol, História e Português. Tudo que eu gostava.
Às
vezes me questiono porque não me dediquei logo a concurso. Saímos da escola com
mente fresca, se estudasse um pouco já estava encaminhado na vida.
Mas
depois lembro que a fase da faculdade não tem igual.
Descobri
isso no ano seguinte, quando passei no vestibular!