quinta-feira, 26 de julho de 2012

Vida em Pensionato


Chegando em Itabuna fui conhecer meu novo lar. A dona do pensionato se chamava Lu, era uma casa pequena com quatro quartos. No primeiro moravam dois garotos que faziam faculdade, no outro a filha de dona Lu, no terceiro ficava a dona. Eu fiquei sozinho em um quarto , mas sabendo que iria mudar em breve porque um dos garotos iriam sair.
A recepção por ela foi ótima, diferente do meu primo que não foi muito boa. Durante a conversa com a dona ele largou um peido  daqueles que dominam todo espaço. Claro que o dono daquele vapor quente só assumiu a culpa quando já estávamos na rua passeando pela cidade.
As pessoas sempre têm dificuldade em morar em pensionato. Imagino que seja difícil mesmo. Conviver com pessoas diferentes , respeitar os horários da casa, confiar em deixar seus pertences tendo outros moradores. Eu não sei se foi sorte ou pela sintonia mesmo , mas acadei me sentindo em casa no pensionato de dona Lu.
Morei durante um ano e meio no pensionato e aprontava bastante por lá. Depois de seis meses um amigo meu de Porto , o Ed , veio morar também. Èramos nós dois, a filha e a dona. Formou- se uma família. Eu era o filho mais novo , traquina. Escondia nos comodos da casa para assustar dona Lu. Ela me xingava de tudo quanto era nome. Me recordo muito do " seu filha da puta com dois guardas noturnos". Tudo acabava em risos.
A gente morava no primeiro andar. Em um dos dias de aprontação peguei minhas sandálias,  batia uma na outra e gritava para fingir que a mulher estava me agredindo.
As nossas brigas se pautavam exclusivamente nos horários de dormir e acordar. Eu gostava de assistir televisão até mais tarde. Dona Lu gostava de dormir cedo e acordar mais cedo ainda para rezar e ouvir o rádio. E assim o pau quebrava, mas com muito humor. Realmente eu me sentia em casa.
Eu fazia cursinho pela manhã, cochilava um pouco a tarde, depois estudava e a noite era televisão. A minha mãe de aluguel achava que eu estudava pouco em casa, mas eu estudava.
O meu companheiro de quarto, o Ed, já estava fazendo faculdade de computação quando veio morar no pensionato. Além da companhia , era um incentivo para eu estudar mais. Ed estudava muito e assim eu melhorei o ritmo de estudo também.

                                                                    ..........X..........

Uma das lições como dono de casa: aprendi a lavar roupa. A dona Lu me levou ao tanque , e me acompanhou lavar o uniforme.
Sempre tive tudo nas mãos. Até minhas cuecas eram lavadas por minha mãe.
Mas confesso que gostei da experiência, essa primeira informação sobre as obrigações de casa, são necessárias. Nem sempre vai sobrar grana pra lavanderia. Essa grana economizada já servia pra um cinema, um sorvete ...
  
.......... X..........

O primeiro momento que descobri que o mundo era pequeno foi a coincidência no primeiro mês que estava morando em Itabuna.
Um ano antes de ir morar em Itabuna, fiz uma viagem de excursão para Beto Carreiro. Não conhecia ninguém, era a primeira vez que viajava sozinho.
Fiz amizade com um grupo de jovens, dentre eles , Fanny. Uma garota muito divertida e atenciosa. A gente andava de mãos dadas, mas nunca rolava de ficar. Não lembro bem o motivo.
Em uma das poucas saídas em Itabuna, fui ao teatro assistir uma peça, referente ao livro que cairia no vestibular. Ao chegar no teatro encontro com Fanny. Sentamos juntos e claro, ficamos! Não precisou nem muita conversa, porque já estava claro que só faltava o beijo. Rs
Então Fanny virou minha “ficante” em Itabuna. Rotina agora era estudar de manhã, dormir a tarde e estudar um pouco, depois ir visita-la.
Morar longe de casa, nos torna mais carente. As pessoas se tornam especiais mais rápidos e preenchem espaços vazios dentro de nós.
Mas não fiquei muito tempo com Fanny não. Continuamos só amigos, mas pra um começo de vida nova, foi algo bem legal.
No cursinho não fiz muitos amigos. Sentava na frente, prestava atenção nas aulas. Meu pai antes de sair de casa me falou “ Se perder esse ano no vestibular , volta e faz administração aqui.”
Fiquei com isso na cabeça. Resolvi fazer comunicação, mais por causa das discilplinas de peso que era Espanhol, História e Português. Tudo que eu gostava.
Às vezes me questiono porque não me dediquei logo a concurso. Saímos da escola com mente fresca, se estudasse um pouco já estava encaminhado na vida.
Mas depois  lembro que a fase da faculdade não tem igual.
Descobri isso no ano seguinte, quando passei no vestibular!

2 comentários:

  1. Minha experiência em pensionato, ainda que rápida, não foi das melhores mas de lá carreguei amizades inigualáveis. Talvez realmente o fato de morarmos longe nós deixa mais dispostos a nos entregar de verdade e uma amizade que demoraria tempo pra acontecer se consolida em apenas uma conversa...
    Lembro das primeiras compras que resolvi fazer. Achava o máximo essa responsabilidade de "gente grande" e por mais que já tivesse ajudado minha mãe outras vezes nas compras mensais, essa era diferente, era minha. Saí com a empolgação que apenas aqueles que acabaram de sair de casa, acreditando que tudo é cor de rosa, saem. Comprei tudo que me deu vontade, meu carrinho repleto de guloseimas mas sem me esquecer de "comida de verdade", feijão, carne, verduras...Lembro de ter pensado: minha mãe ficaria orgulhosa. Voltei pro pensionato com um sorriso no rosto e me achando uma adulta. Até que um de meus amigos, ao me ver desfazendo as sacolas, pergunta sobre sabão em pó, detergente, desinfetante. Caí no riso! A "adulta" aqui tinha pensado apenas com a barriga!
    ;)

    Juru, vou ficar viciada nos seu blog. Certo!
    Me identifico a cada palavra.
    Parabéns!
    Beijo grande!

    ResponderExcluir
  2. A grana economizada com a roupa sobrava pra comprar sorvete????? que mentiroso!! kkkkk vc comprava cerveja!! =D
    aaaa, mas qdo me apresentaram a máquina de lavar roupas foi amor a primeira vista. Só tive que tomar uma aula de como ligar, pois era tanto botão!! =]

    ResponderExcluir